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crítica | Luís Serguilha

 

Poeta, ensaísta e curador

de arte ibero afro americana

Paula Villa Nova funde as suas composições artistas na sua própria vida. Paula Villa Nova cria e se reinventa o tempo todo, impulsionando tecelagens sígnicas, artistas, caológicas e intensificadoras de forças múltiplas que rupturam política e plasticamente os centros da normalidade e o sensório-motor. As experimentações estéticas de Paula Villa Nova atravessam e envolvem corpos paradoxais dentro de espaços heterogéneos e da deformação delicada que dão consistência rítmica aos próprios movimentos sempre em recomeço problemático, diferenciador e próximo das pré-catástrofes. Cada movimento do seu corpo-artista gera espessura e crise no intensivo do contemporâneo como um jorro do tempo em transmutação incessante, suas expressões se desvanecem e ressurgem simultaneamente e por dentro de estimulações impiedosamente afectivas, atingindo o esgotamento germinador de eros que combate tanatos com multidões à deriva despedaçando e perturbando  estratificações assujeitadas aos preconceitos, à ignorância, ao fanatismo, às burocracias, aos julgamentos, à banalidade, à consciência punidora. Paula Villa Nova afirma o trágico e a absurdidade como estética e ética existencial. Paula toma conta da sua própria liberdade avocando a experimentação artista da sua existência combatendo qualquer tipo de poder. Os corpos irrefreáveis de Paula Villa Nova despontam como espelhamentos de potências em acto, evitando a organização determinista, a recognição inflexível e os modelos por meio de dobras variáveis, de densidades expressivas, de liames aformais, de intermezzos delirantes, de ritmos inconscientes e de tempos puros que trespassam o extremo da vida, expandem limites, relacionam forças diferentemente ininterruptas, exercitam a potência-mundo-arte, alargam e emaranham cartografias de sensações a uma velocidade infinita: há aqui uma tremenda rizosfera energética a penetrar na existência acontecimental, a garimpar e a esboçar espaços-tempos, a intersectar e perfurar obstáculos topológicos, a estimular a insurreição epidérmica, a transpor fronteiras e a criar sentidos dentro dos metabolismos dos seus gestos em contágio com a complexidão do mundo, é uma força anorgânica que gera conceitos e pensamentos moventes e fractura arcabouços com os seus acessos plenos de limiares, de tendências caóticas e de revoltas contínuas. Os corpos de Paula Villa Nova completamente fluentes esponjam as fendas abíssicas e as subtilezas interrogadoras dos sintomas do mundo, fazem encontros com o tempo da experimentação, compõem, decompõem, libertam forças, atingem o desagrilhoamento anatómico-espiritual, produzem estímulos supralógicos, se transvertem, defrontando o desconhecido, as estrangulações, a desesperação, a expectativa, a confiança, o sacrilégio, a sátira, dobram-se, redobram-se, contagiam-se, conectam-se, recolhem-se, restituem-se, envolvem-se, trespassam-se e seduzem o inexplorado e o desconhecido por meio de braçadas de intensidades em risco e de possibilidades do impensável: corpos que se abrem e se perdem entre fluxos imperceptíveis e fronteiras pontilhadas, tatuadas, escarificadas e abertas às multiplicidades das sensações que fortalecem a re-existência do sensível por meio de levadas assignificantes fora da consciência determinista, julgadora e punidora. Os corpos-artistas de Paula Villa Nova exercitam o real ilimitável, fazem do tempo um desejo sem finalidade e um intercessor da criação: aqui-agora: dicionários afectivos nómadas plenos de uma ética da estilização de vida e plenos de processos estranhamente indetermináveis e incontroláveis despedaçam forças que rebaixam e capturam a capacidade de acontecer singularmente, fugindo dos moralismos, da ditadura dos binómios, da algoritmização do espectáculo, da polarização das banalidades, das imposições da máquina social e das venerações do poder que anulam a vida. Paula Villa Nova é já em si uma incomensurável prática do intempestivo, é um corpo-de-vários-corpos cruelmente espiritualizado e gerador de tempo crónico ao absorver as forças vivas e inusitadas do mundo, difundindo existências singulares. Paula Villa Nova faz da sua arte uma experimentação integral,  uma força sígnica invasora  e mutante  lançada para um corpo que se reinventa ao variar o mundo resistindo à morte, à servidão, ao intolerável, à vergonha: um corpo que se abre tremendamente, gera realidade, contorce os poros, convulsiona-se, aglomera-se, escorre-se, perscruta-se, devasta tenebrosidades e impregna-se na cosmicidade bruxa, compondo superfícies sem delimitações, sem transcendências metafísicas porque nos seus respiros há paradoxalidades vibratórias, há potências de sentidos fora da significação que o atravessam, expandindo e asseverando o instante durável existencial : um corpo que dança o espaço para rasgar o servilismo com novos povoamentos do sensível dentro das forças topológicas e expressionistas da imanência. Paula Villa Nova é uma artista que se conecta ao que uma existência pode entre várias maneiras de viver e jamais subordinada às cartilhas e mandamentos de uma divida infinita: uma artista que cartografa outros corpos fora das acepções, escolhe encontros desligados dos hábitos, desliza na composição permanente e indómita dos sentidos, absorve a amplitude do fora-indecifrável, assimila a intensificação do imprevisto por meio de multiplicidades irredutíveis, desidentifica-se porque todo seu corpo é ritmo, desloca o sustentáculo da terra para relacionar potências de quereres nas vontades. Paula Villa Nova descobre agenciamentos estéticos-éticos nas conjecturas desconhecidas, nos limites ilimitados dos afectos que produzem estímulos veementes e abertos às possibilidades incomensuráveis e às conexões de corpos inexploradas rés ao inaudito. As infinitas possibilidades dos seus cruzamentos corporais potencializam afeCtos por meio de múltiplos gestos dançarinos, forçando o pensamento impensável a religar-se às cirandas  gradativas de um real irrepresentável porque não existe uma verdade absoluta nem memórias reactivas para os corpos de Paula Villa Nova em composição plural. Os corpos de Paula Villa Nova não procuram gratificações nem manifestos porque fortificam-se e coexistem-se desviados dos arquetípicos, das utilidades e impregnados nas diferenças dentro do ritmo caológico. Os corpos-artistas de Paula Villa Nova agitam vários pontos de vista, fazem do movimento de novas semióticas um olhar do real invisível, um olhar dos outros de si-mesmos, criam visões, resvalam no mundo sem sujeito, sem objecto, sem centro e tornam-se quase-imperceptíveis, quase-inacessíveis para atingirem e conquistarem a liberdade, quebrando percepções. Há nos corpos de Paula Villa Nova olhares em escoadura animalizante que se tornam indefiníveis e intraduzíveis entre linhas abstractas e polimorfias hápticas a fragmentarem-se em várias zonas de vizinhanças do sensível até atingirem uma transmutação alucinante que não está no fim, nem na origem, nem na totalidade, acontecem pelo meio de ondas rítmicas caóticas que se cruzam e se entranham no devir geográfico, na errância  e nos lugares informes de passagem. Há nos corpos de Paula Villa Nova uma política do corpo vivo que constrói cruelmente lugares, bosqueja espaços dinâmicos, relaciona forças do sensível e cria processos de singularização com extrema vitalidade por meio de atravessamentos de matérias-espirituais catalisadoras de acontecimentos. Estamos perante corpos envolvidos pela duração geradora de um COMUNAL que singulariza, não representa, multiplica matrizes, é insituável e gera diferença inventiva em si-mesma dentro de variações ritmáveis de vida. Nos corpos-artistas de Paula Villa Nova só há intensidades exultantes que visibilizam o oculto com suas fronteiras extremas e com seus afastamentos contíguos dentro do tempo da experimentação que os fazem agir, arriscar, criar defronte ao indeterminado e ao indefinido: corpos que captam intensivamente coexistências problemáticas afirmadoras da vida.

Paula Villa Nova | Copyright 2019

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